no outono, à noitinha
um dia chuvoso.
os dedos manhosos de Tom Jobim,
o coração se enche de alegria.
as gotas da chuva. a luz de vela
o crepitar do fogo na lareira.
o piano de Tom.
cada som, um a um.
chá quente. torradas e mel.
um espirro. talvez o perfume.
sutil, sem cheiro,
distinguia em meio a tantos.
algum tempo ela não vinha.
chegou sem aviso.
nunca gostou,
mas acostumou.
ela se aproximou bem devagar.
tomou o seu corpo.
amortecido a esperava.
entregou-se sem resistência.
derrubou-o ali mesmo
na sala, apoderou-se dele.
debaixo do edredom
a noite inteira.
a lareira se apagou. amanheceu.
Tom já não tocava.
nem a chuva caia.
apenas ele e ela.
febril, ardia.
a boca seca pedia água.
olhos arregalados pediam ajuda.
nenhum som mais se ouvia.
oito horas. a diarista chegou.
trazia pão, café e leite.
viu-o no sofá. ficou apavorada
ele tremia dos pés à cabeça.
providenciou.
o médico curou.
maldita gripe.
talvez no próximo outono...!
Um comentário:
Esse cara deve ser um hipocondríaco, vai gostar de gripe assim na...
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