2008/08/23

Carta de amor

Por Rogério Silva

minha amada,
comecei a escrever.
tudo o que tenho a dizer
está aqui, gravado no meu coração.
eu sei todas as palavras,
todos os sentimentos.
meu corpo também.
ele se agita.

as mãos ficam trêmulas.
um suor frio escorre pela testa,
mistura-se às lágrimas.
pingam na folha. borram tudo.
as mãos garrancheiam.
já é a terceira folha e não saio deste ponto.
quero dizer tudo. tudo não, uma parte.
não tenho tantas folhas para tudo.

como é mesmo que se diz?
que se sente só de ouvir o seu nome?
a lembrança do encanto, do contato.
o desejo de estar junto, de ser um.
carta de amor é assim.
tem um quê de ridículo.
pieguice e frivolidade.
reclamações também tem.

puxa! você me deu bolo.
fiquei esperando na chuva.
nem ligou para o perfume que eu te dei.
não lembrou nem do meu aniversário!
as letras pioram novamente.
ficam maiores. parecem gritar.
a testa seca. a caneta quase corta o papel.
sentimento estranho! tão forte! tão vibrante!

não vou rasgar essa folha, vou até o fim.
assim é melhor. sinto-me forte.
posso enfrentar o que vem.
falar de mim, além da vivência.
experimentar a dúvida.
a incerteza.
a sua incerteza.
volto a suar, palpitar, lacrimejar.

não adianta. se eu escrever, se eu cantar,
se gritar ou dançar. não importa o que eu faça.
só o que ficar no papel será
a única testemunha desse instante.
só você, papel,
estará entre nós.
fale então por mim. diga-lhe.
eu a amo! muito!

2 comentários:

Anônimo disse...

Presado Amigo Rogério, encantado com seu escrito. Levito com sua brava continência e entrega ao confessionário das letras. Parabéns pela entrega e franqueza a lágrimas e suores.Amores aquosos fazem falta nos dias de hoje. São como passear de mãos dadas, ver flores de flamboyant e contemplar o canal no Jardim de Alah, junto a amada. É raro e por isso faz falta. Falar de amor, também.
Abraço amigo e saudações poéticas.
Quando puder visite "poemasaflordapele.ning.com", será um prazer.

Marco Antonio (pai de Guilherme)

Anônimo disse...

sinto-me tão tocada pelas suas palavras que acabo me aproriando delas como se fossem escritas para mim.

é tudo o que eu gostaria de ler numa carta de amor.

eu sei que você não me conhece e eu também. mas gostaria que você soubesse que também te amo! por tudo que escreveu.

beijos de priscila