2011/05/27

a velha senhora digna (antitese de Bertold Brecht 1898-1956)

Martha, mãe de muitos filhos.
durante muito tempo
um na barriga, outro no peito
e mais um na barra da saia.

criou para o mundo os filhos,

sobrinhos e netos, as vezes...
envelheceu majestosa e firme.
sem estudo, mas com sabedoria.

fazia quitutes/quitandas, broa de milho,
cocadinha que não leva coco,
queijadinha que não leva queijo...
não importa!

“sabe por causa de que?”
era seu jeito de começar uma prosa.
fala mansa e fugidia
como convinha já pela idade.

os netos eram sempre bem-vindos,
bem amados e protegidos.
dos filhos, escondia os problemas de cada um
como a macaca cata parasitas em seus filhotes.

genro, convivi perto dela
o tempo suficiente
para conhecer a vencedora que era
na sua faina sem louros, faixas ou medalhas.

pessoa amorosa e dedicada
cuidava de tudo com harmonia.
incansável presença
vaidosa e bela.

pela proteção rezava e pedia aos céus
no incansável modo de viver.
pelejava contra a finitude,
a decrepitude e a velhice...

mas num tombo,
a vida perdeu e pereceu.
luta desigual, mas com dignidade
ficou apenas o seu desejo de viver.

Um comentário:

Anônimo disse...

Conheço o texto de Brecht "a velha senhora indigna" que é bem o inverso dessa, mas acho que as duas deveriam ter algo em comum, se não você não teria feito a menção. Penso que semelhança venha do modo de encarar a vida sem se preocupar muito com os comandos do "macho poder".
De qualquer maneira acho que você tem razão em defender essa sogra que me parece ter sido uma pessoa muito querida, principalmente para os genros.
Adorei os seu blog e os seus poemas. Voltarei mais vezes aqui.
Marina