2007/11/10

Arnaúdo

Por Rogerio Silva

Arnaúdo era um cara chegado às esquisitices desde pequeno. Dizem que tudo começou por causa do seu nome que no registro do nascimento o escrevente trocou o l por ú, ninguém notou e ficou por isso mesmo.

Como esquisitices de menino ninguém nota mesmo, tinha em cima do armário umas dez bolas de couro, algumas pandorgas rasgadas e outros cacarecos.

Quando fez sete anos de idade, seu pai lhe deu de presente uma bola de futebol para incentivá-lo no esporte, mas ele gostava mesmo era de ler revistinha. De quando em quando ele ganhava outra bola, ora de basquete, ora de vôlei. Até bola de tênis ele ganhou, mas elas ficavam lá, murchas e empoeiradas. O que ele gostava mesmo era de ler, e na escola era tido como nerd.

Esquisito ele era, mas só não dava para dizer que fosse boiola, pois vivia sempre muito bem cercado de lindas garotas.

Queria estudar Direito, fez vestibular e passou. Fez o curso com brilhantismo, formou-se e abriu um escritório. Foi procurado por pessoas que queriam o divórcio, mas todos se reconciliaram e não conseguiu realizar umzinho se quer. Só então se deu conta de que havia se formado em Psicologia e não em Direito.

O seu casamento foi outra coisa muito engraçada! Conta-se que ele passava pela catedral quando viu Laurinda vestida de noiva, linda e maravilhosa, chorando sentada nos degraus da escada. Ela era mesmo muito bonita! Todos a olhavam com admiração, espanto, compaixão e dó. Arnaúdo aproximou e perguntou o que havia acontecido. Sabendo que fora abandonada pelo noivo ele de imediato, se ofereceu e casou-se com ela, ali mesmo.

Já estão casados fazem treze anos, mas sempre moraram separados e nunca tiveram filhos.

Mas a história mais esquisita mesmo é a do celular. No momento que estou escrevendo ele já deve ter mais de vinte celulares, mas não pense que ele é um colecionador obsessivo. Não. O primeiro celular ele comprou como todo o mundo, numa loja que fazia uma interessante promoção.

Certa vez, numa boate viu uma loura estupenda com celular na mão e não resistiu, percebeu, era só mirar o seu celular para o dela e mandar um torpedo: "Aqui é o Arnaúdo, tô apaixonado por você, acho você um tesão e quero te encontrar aqui mesmo na boate..." e a mensagem caíra na caixa postal. Um cara tipo “armário” saiu do banheiro e pegou o celular indo sentar-se com amigos. Como todos os celulares têm bina ele não quis correr o risco, logo procurou o cara e ofereceu boa grana pelo celular.

Este foi o primeiro celular extra que ele adquiriu. Daí pra frente ficou cada vez mais fácil. Tudo era ocasional, mas o mais incrível foi quando esteve em Recife. Lá havia um casal que vivia em litígio e muitas vezes ele era o pivô do conflito. Renê e Claudete já eram grandes amigos dele antes de se juntarem, mas Renê nunca escondeu o ciúme que tinha de Claudete por ser amiga íntima de Arnaúdo.

Claudete assim que soube da chegada de Arnaúdo ligou para seu celular a fim de marcar um encontro entre eles na praia de Boa Viagem. Marcou dia hora e local e depois desligou. Arnaúdo ficou indócil com a perspectiva de revê-la e não resistiu, ligou novamente para ela. Neste momento ele se encontrava próximo a uma banca de jornais e não percebeu a aproximação sorridente de Renê que já o reconhecera, de longe. Aproximou-se risonho, mas mudou de cara quando ouviu o que ele falava: “eu sempre te amei e estou louco para reencontrá-la”.

Mal acabou de dizer a frase, percebeu a mudança no rosto de Renê. Imediatamente pôs o celular no bolso e trocou por um dos tantos que sempre carregava consigo.

O constrangimento se instalou entre os dois como que definindo como iria difícil à convivência, quando Arnaúdo sacou o celular e disse: Você não vai acreditar eu estava agora mesmo falando com Ritinha, lembra dela?

Renê pegou o celular desconfiado e observou o último número discado. Ficou aliviado.

Ufa! Às vezes ter muitos celulares é a salvação.

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