Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Onde eu possa ficar do tamanho da paz
E tenha somente a certeza
Dos limites do corpo e nada mais
Uma existência simples, numa simples cidade.
Simplicidade que aninha uma vida
Que de tão simples acalma o íntimo.
Dizer não ao burburinho da grande cidade,
À pressa, ao falatório proverbial,
À voracidade dos acontecimentos.
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa compor muitos rocks rurais
E tenha somente a certeza
Dos amigos do peito e nada mais
Pela manhã caminharei
Com passos lentos
Para sentir a brisa do amanhecer.
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Eu quero carneiros e cabras pastando
Solenes no meu jardim
Eu quero o silêncio das línguas cansadas
Que me cantem os pássaros,
Façam-me visitas as cigarras, as flores efêmeras,
Os girassóis, os amigos e a boa música!
Quero os dias a passar devagar.
Sempre vivi sem pressa!
Quanto mais agora que me falta menos!
Eu quero a esperança de óculos
E um filho de cuca legal
Eu quero plantar e colher com a mão,
A pimenta e o sal
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
Encontrarei nela tempo para amar
As pessoas, a natureza
E as coisas pequenas.
Aos amigos cederei um dedo de prosa.
As crias serão alimentadas
Como convém.
Eu quero uma casa no campo
Do tamanho ideal, pau a pique e sapê
Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos e livros e nada mais
Os livros me contarão histórias
E a minha simples cidade
Será plena de tudo!
Após o almoço uma sesta
E à noite o vinho me fará companhia
Ao som meloso do jazz.
Vou-me embora pra Pasárgada
É assim a simples cidade que desejo!
E muito mais minha do que eu dela!
Para ela serei apenas a simplicidade!
Eu quero uma casa no campo
Vou-me embora pra Pasárgada
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